História de vida
Aisha Dincer
Conheci a dança do ventre aos nove anos de idade e foi amor à primeira vista. Na época, eu morava numa cidade do Goiás e lá só havia uma professora de dança do ventre. Meus pais me matricularam na datilografia, violão e inglês, mas quando vi a dança do ventre, eu fiquei encantada. Foi tão mágico que eu quis aprender para depois ensinar para as colegas da minha rua. Fui levando muito a sério, e então abri minha primeira turma na varanda da minha casa. Como não tinha a mesma tecnologia de hoje, minha mãe comprava fita cassete na banca de revista para eu estudar. Passei uns dois anos estudando a mesma fita de vídeo, e nesse período ganhei a minha primeira roupa de dança do ventre e fiquei com ela durante longos quatro anos.
Como os recursos na cidade que eu morava eram muito escassos, meus pais resolveram me levar toda semana para Brasília, para que eu fizesse aulas de dança do ventre. Nesse momento, comecei a conhecer um pouco mais da arte. Sempre carregava comigo um caderno de anotações onde anotava os passos que eu via nos shows e aulas para estudar em casa. Aos doze anos fui pela primeira vez dançar em um teatro, e eu nunca tinha visto um teatro, e lá estava eu, com minha única roupa de dança (risos).
Quando eu tinha treze anos, com a repercussão da novela “O Clone”, e o interesse das pessoas pela dança árabe, a Rede Bandeirantes de Brasília realizou um concurso, eu concorri com outros profissionais, e conquistei o 1° lugar. Foi uma surpresa para mim!
Continuei na caminhada por muito tempo, viajava para Brasília toda semana em busca de um sonho, continuei dando aula até que, aos quatorze anos, organizei meu primeiro espetáculo de dança com quarenta alunas. Foi um sucesso!
Aos dezesseis anos me mudei da cidade onde morava e fui para Taguatinga, uma região administrativa do DF que fica mais próxima de Brasília. A mudança foi decisão da minha mãe, que queria me dar mais oportunidades, já que a cidade que morávamos não me oferecia perspectiva de crescimento para aperfeiçoar minha dança.
Em Brasília, comecei a fazer aulas no plano piloto, centro da capital, com professoras renomadas e pude conhecer mais sobre o estilo que escolhi. Continuei dando aulas, porém agora na sala da minha casa em Taguatinga, para pagar as aulas que eu fazia e meus figurinos de dança.
Aos dezoito anos, fui convidada para dar aula numa escola de dança do ventre que eu admirava na época, e foi como ganhar na loteria! Entrei realmente de cabeça, comecei a fazer workshops e ter mais oportunidades no meio artístico. Diante disso, resolvi fazer a prova da Khan el Khalili.
Na minha preparação para a prova, eu ouvia, mais ou menos, trinta CD’s por dia, dançava mais de cinco horas todo dia, pois não tinha condições de pagar uma professora particular. Assistia aos Dvd’s e pegava dicas com as colegas da dança. Nessa mesma época, conheci o Zouk, um dos ritmos das danças de salão, e esse estilo acabou me ajudando muito no processo de criação da minha bailarina.
Com minhas experiências nos diferentes estilos de dança nasceu o Zouk Árabe, fruto da minha personalidade junto com a do meu parceiro de dança, Augusto Freire. Ele dava aula de zouk, e a cada passo que me ensinava, eu adaptava para o caráter corporal da dança do ventre.
Passei na prova da casa de chá Khan el Khalili, e após dois anos fui convidada para fazer a prova para o “Noites no Harém”, na qual também fui aprovada com muita ajuda de uma amiga e professora, Samira Carla. Foi a partir desse momento que comecei a ter mais notoriedade pública e fui em busca de novas oportunidades. Essas vitórias são muito importantes, pois não era um período fácil. Ia para São Paulo de ônibus e muitas vezes levava alimentação na bolsa, pois os gastos eram muitos e não tinha muitas condições financeiras.
Em paralelo à dança do ventre, me aprofundei no Zouk, conheci o Mestre Jaime Aröxa, ícone das danças de salão e com trabalho reconhecido no Brasil e no mundo. Esse encontro possibilitou uma transformação na minha carreira. O Jaime me deu oportunidades e novos desafios. Além de me apresentar no Rio de Janeiro, aproveitei os cursos de formação de professores dele para aprender a didática e desenvolver a minha metodologia de aula. Foi quando conheci o curso dele de sensualidade e autoestima feminina, cujas aulas se tornaram um marco em minha vida.
Com base nas experiências, desenvolvi meu estilo de dançar e dar aula. Foi então que nasceu meu projeto “A arte de ser Diva”, em que comecei a ministrar cursos e minha bailarina começou a viver uma nova fase.
Viajei para outros estados ministrando workshops e fazendo shows. Nessa época, duas pessoas foram meus pilares, Kristian Galvão e Linda Hathor. Ambos me deram grandes oportunidades.
Paralelo a isso eu tinha uma musa inspiradora, que foi uma mãe na dança, a minha professora Jade el Jabel. Ela quem me lapidou a distância, muitas vezes sem saber.
Aos vinte nove anos resolvi materializar um sonho e abri minha própria escola. Aluguei uma sala pequena e começou mais um desafio em minha vida: aprender a ser empresária. Estudei sozinha, pois não tinha como investir em cursos. Como fazia faculdade de educação física e tinha muitas responsabilidades, passei madrugadas estudando e projetando minha escola. Em 2017 nasceu o meu “bebê”: Divas Dincer Artes do Corpo. Toda a escola foi decorada e reformada por mim, pela minha família e por alguns anjos (risos). Passado um ano do meu empreendimento, precisei ampliar meu empreendimento. Estávamos crescendo, a escola e eu também.
Começaram as obras e, em seis meses, precisei ampliar novamente. Minha escola não era mais uma pequena salinha, o meu pequeno Diva’s Dincer se tornou um palácio, para mim e para todas as minhas alunas. Assim fui conciliando a vida de empresária, professora e bailarina.
Decidi voltar a estudar para participar de novos concursos, então fui para o Mercado Persa e lá competi na categoria: “solo profissional máster”. Nesse dia, inovei ao utilizar na minha dança um bastão retrátil, conquistei o segundo lugar, e na categoria “solo fusão” ganhei o terceiro lugar.
Em 2019 fui convidada para concorrer a categoria “solo Sênior” no Mercado Persa e conquistei o terceiro lugar, ministrei workshops em vários estados e pude assim ampliar e levar essa arte da dança, pela qual eu sou tão apaixonada.
No mesmo ano, idealizei o projeto “Encontro Candango de Danças” em Brasília, tendo como principal atração a Orquestra Ilahum da Argentina.
E pela primeira vez fui no festival nacional Shimmie, concorrer a categoria “solo profissional folclórico”. Confesso que, mesmo não conseguindo me preparar como gostaria, pois estava me recuperando de uma lesão, tive a imensa surpresa de receber a notícia que fui a campeã. Fiquei sabendo da notícia quando já estava no aeroporto, a emoção foi tanta que não sei como traduzir em palavras.
Estar na revista da Shimmie sempre foi um grande sonho na minha carreira, mas nunca passou pela minha cabeça que um dia seria real. Essa conquista foi a resposta de toda a minha luta durante anos de muito trabalho e dedicação.
Valeu a pena cada lágrima derramada, cada luta, lesão e cicatriz que eu, como artista, enfrentei, superei e hoje lembro com a certeza de que foram esses momentos que me permitiram ser quem sou.
Comecei minha vida de dançarina estudando por revistas e hoje estou aqui numa revista que admiro, contando e lembrando como foi minha história. É (e pra mim sempre será) motivo de celebração.
Tudo tem seu tempo! Agora o meu tempo chegou!
Atualmente minha escola passou por uma transformação, passando a se chamar Estúdio de Dança Aisha Dincer, um espaço que transmite minha verdade ao lado de tantos profissionais que admiro e me inspiro!
E paralelo a empresa continuo desenvolvendo meus projetos, workshops e shows pelo Brasil, o ultimo foi o projeto Sete Noites e Sete Véus, desenvolvido por Jaime Arôxa, em breve teremos novas novidades...